Um heterónimo de Fernando Pessoa disse algures que "o poeta é um fingindor" (cf. Autopsicografia / Bernardo Soares, in: Presença, n.º 36, Novembro de 1932), ainda que invocando "a dor que deveras sente", mas o poeta Francisco José Lampreia vem contrapor a necessidade de afirmar a "verdade" imanente (qualquer que ela signifique, e a que nos seja possível alcançar, sendo que os poetas voam sempre mais longe que o comum dos mortais...). E, há que dizê-lo, ainda bem que a poesia não se esgota nos "fingidores", lugar hoje ocupado não por poetas mas por predadores (anti-)sociais.
Poetas "veristas", ou melhor dizendo, poetas d(e)(a) coragem (já que a "verdade" exige coragem, atitude rara nos tempos que correm) são hoje tão necessários como o ar puro que queremos respirar. É certo que a "verdade" por si só não é poesia, mas cabe aos poetas dotá-la de sentido(s) poético(s) "carregado(s) de futuro". Tal como no axioma poético de Gabriel Celaya (1911-1991), Premio Nacional de las Letras Españolas em 1986, trata-se de "(...) poesía necesária, como el pan de cada día (...)".
FJL é uma dessas significantes vozes que se erguem em contra-corrente, e dá-nos um precioso contributo no seu estilo pessoal, em que a intenção “verista” é sabiamente condimentada com a difícil arte da fina ironia.
David Zink
Veritas vincit
- As verdades têm de ser ditas!
- Meu amigo, isso não é chic!
Desconheces a “Realpolitik”?
O dizer deve ser… uma arte,
Agora… é assim em toda a parte.
Cuidado também com a escrita!
A escrita… é perigosa!
E causa melindres,
Pode mesmo ser considerada… melindrosa!
Em vez de verdades,
Falemos e escrevamos antes…
Sobre assuntos de diversão.
Sobre assuntos sérios, Não!
Coisas de diversão… é o que está a dar,
Corre-lhes o vento de feição!
Por isso, coisas sérias não;
Os outros estão-se nas tintas!
- As verdades têm de ser ditas!
- Porque gritas?
- Também não posso gritar?
Francisco José Lampreia / Junho de 2008
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