ARS POETICA 2U releva do conceito de que a alquimia das palavras é parte essencial da vida, sendo esta considerada como arte total.
Por isso se revê no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo, procurando estar em sintonia com todos os que partilham do nosso modo aberto de conceber e fruir a arte.
Por isso é também 2U (leia-se, "to you", i.e. a arte da poesia para si).
Colabore com poemas, críticas, etc.
E-mail: arspoetica2u@gmail.com
Somos fiéis ao lema "Trás outro amigo também".

Convidamo-lo ainda a visualizar e a ouvir (basta clicar com o rato sobre as imagens) alguns dos poemas com música e interpretação por elementos do Ars Integrata Ensemble (vídeos disponíveis no final desta página), assim como a visitar a página do mesmo em http://arsintegrataensemble.blogspot.com/


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POEMARIUM : recipientis poeticus

POEMARIUM : recipientis poeticus

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

ARS POETICA (94): Natal em lista de espera, poema in illo tempore de Armandina Maia


The blessed flag waiting for Christmas (2012) / David Zink



Natal em lista de espera

Ficou longe, como se a retina tivesse embaciado, o natal grande, à volta de uma mesa que pensávamos eterna.
Hoje, temos uns natais pequeninos, feitos de restos de sonhos que se tornaram interditos. 
Mas esperamos –...
 ainda - um natal que nos abrigue, num templo em que cabem todos os deuses e ninguém se esquece dos que sofrem, dos que morrem de solidão e desamparo, das crianças não amadas, dos que sobram nas famílias.
Dormiremos a sono solto, no dia em o natal for para todos, como as praças das cidades, as árvores das montanhas, os mares de todos os tempos, o céu de todos os mares.
Dezembro de 2012
Armandina Maia

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ARS POETICA (93): Poema de Rui Zink para o «JL»




Minha pátria, minha língua / Rui Zink



Com a devida vénia e autorização do autor, republicamos aqui um poema de Rui Zink, tal como foi publicado no JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, em 2012-03-21


In: JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias

«Pedimos uma declaração de amor à Língua Portuguesa, para assinalar os 32 anos de JL. Rui Zink escreveu um poema»:



Minha pátria, minha língua
Linha pátria, minha míngua
Juro-te, se fores minha gramática
Eu serei tua sintaxe.

É que, em ti, gosto de tudo
Dos sons, dos ecos, da surdez
Até das tuas rimas fáceis
Em extâse, em extâse.

Certo, nem sempre nos entendemos
Desgosto quando dizes atempadamente
E tu enxofras com os meus isso é suposto.

Mas não tem mal
Um dia, num presente distante
Voaremos juntos a uma ilha deserta
Lá cantarás só para mim
E eu, enfim (prometo que sim)
Calar-me-ei de vez
Só para ti.

Seremos não mais uma língua
e seu falante
Tão só uma palavra (uma palavra simples)
e o seu não menos discreto
amante



publicado no «JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias» em 2012-03-21. – Cf.: http://visao.sapo.pt/poema-inedito-de-rui-zink=f654016


sábado, 1 de setembro de 2012

ARS POETICA (92): Carlos Peres Feio em «Grupo»




GRUPO




somos quantos?

não interessa

o que nos traz aqui?


nas palavras que digo

nas ideias que alguém pensou

afirmo

que bom aqui estarmos



caros conhecidos e desconhecidos

o importante é a palavra

esta transporta tudo

o que antes aprendemos

e leva também o grito rouco

do que esperamos receber

o dia a dia quer desorganizar-nos

não deixemos que isso aconteça   


somos poucos? somos muitos?

não interessa

importante é estar aqui


tenho sempre a esperança vã

de conseguir meter nas palavras

aquilo que liberta

as sensações mais profundas



vamos usar a cabeça

dizer o que merece ser dito

calar o que é banal

ler mais do que escrever

quero deixar dito

escolham os nossos poetas

digam as palavras portuguesas

mostrem-nos Portugal


somos quantos?

não interessa

estamos para ficar.


carlos peres feio   2012.08   carcavelos

domingo, 24 de junho de 2012

ARS POETICA (91): Metade de Ferreira Gullar, Pedaço de Chico Buarque


All of E - the brazilian way [2012] / by David Zink



Do poeta brasileiro, cidadão do mundo, Ferreira Gullar, prémio Camões 2010:



Metade



Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio…

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste…

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é plateia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
também


Ferreira Gullar



E...
"Pedaço de mim"

Pedaço de mim, de Chico Buarque de Holanda, com Zizi Possi

terça-feira, 15 de maio de 2012

ARS POETICA (90): A Dimitris Christoulas, em Atenas, Abril de 2012


Greeceland Anima MMXII / David Zink fecit



A Dimitris Christoulas, em Atenas, Abril de 2012



de súbito
insustentável
na praça Syntagma a relva surgiu vermelha
junto do tronco impassível da árvore abandonada

e toda a Grécia estremece com o espanto de um grito
um grito só e aflito que cruzou a Terra toda
como se fora pequena
como se valesse a pena despertar ainda a aurora
e jaz num corpo vazio que nos perturba a cidade

foi cada passo contado que o levou ao destino
foi a certeza da Vida que lhe aconselhou a morte
e um tiro redentor que suas mãos libertaram
agitaram o torpor das consciências paradas

ali foi digno
Dimitris
contra os tiranos da vida
a provar-nos às mãos-cheias que somos senhores de tudo
e só nós somos os donos da hora da liberdade
quando a centelha da honra se acende dentro de um peito
vestido de humanidade

legou uma nota breve bordada a sangue e a revolta
por não mais o merecerem os tiranos que nomeia
mas o olhar derradeiro abrange este mundo inteiro
adivinha-se fraterno
militante
solidário
numa paz feita na guerra que vestiu de dignidade
como a marca do trabalho na camisa do operário

há-de ter nome de rua
há-de erguer-se em monumento
e ser contado na lenda
se o soubermos merecer
se o sentirmos irmão ao alcance de um abraço
sem fronteiras de lamento
sem o esquecimento eterno
há-de ser céu e inferno
há-de ser a voz do vento
sempre que alguém se levante
num grito só e aflito que estremeça o universo

Dimitris não morreu só
pois com ele morremos nós
cada um para o seu lado
e todos morrendo sós

Dimitris
Dimitris
porque nos abandonaste?
qual o apelo sentido?
qual o rumo que traçaste?
porque nos ecoa ainda
esse grito que legaste?

- Jorge Castro


 Canto General (excerto)
(poema de Pablo Neruda; música de Mikis Theodorakis)
Solista: Maria Farantouri
Maestro: Mikis Theodorakis (1925-)



quinta-feira, 22 de março de 2012

ARS POETICA (89): ouço a luz



lembra-te que és meu pôr do sol
mas sou eu que me afasto
enquanto brilhas ainda
amor

o meu mergulho na terra
será
com os ouvidos na luz
os olhos em ti


2005 - carlos peres feio DIA DA POESIA...................................

quarta-feira, 21 de março de 2012

ARS POETICA (88): The Poem of Life (in 9 pages), by David Zink


THE POEM OF LIFE (in 9 pages)*

= O Poema da Vida (em 9 páginas)** =
para o Dia Mundial da Poesia

David Zink
Dia Mundial da Poesia
2012-03-21
* The order of the pages can be changed, except the first and the last ones
**A ordem das páginas pode ser trocada, excepto a primeira e a última
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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

ARS POETICA (87): Cartas do amor urgente, de Carlos Peres Feio

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Cartas do amor urgente
entrego-te a folha
escrita
mas és tu que a vais
entregar
tu não sabes
mas levas a minha vida
na tua mão

confio-te o melhor de
mim
porque as minhas
palavras
ganham-me sempre em
concurso
com os meus atos
tresloucados

leva à tua irmã as
minhas letras
ainda não é dia dos
namorados
mas eu já a namoro
com o normal romantismo
de um coração que envia
mensagens

não acredito nas
soluções avançadas
para sentimentos antigos
o meu coração pode vir a
ter
um pace maker
mas não pode
digitalizar
porque ama mas não é
lógico

então espero espero
que a carta vá e volte
outra
perfumada amorosa
em papel seda

este processo da
produção
da carta de amor
não me sai da mente
por isso chamo a este
poema
cartas * do amor * urgente


c peres feio 2012 01 31 carcavelos

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Tom Waits & Crystal Gayle - One from the heart
soundtrack of Francis Ford Copolla's film of the same name (1982)
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Da Ciência e da Arte / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Acerca da essencial e discreta diferença / Júlia Lello (poema) & David Zink (música)

Canção de embalar / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Falas de amor / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)