ARS POETICA 2U releva do conceito de que a alquimia das palavras é parte essencial da vida, sendo esta considerada como arte total.
Por isso se revê no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo, procurando estar em sintonia com todos os que partilham do nosso modo aberto de conceber e fruir a arte.
Por isso é também 2U (leia-se, "to you", i.e. a arte da poesia para si).
Colabore com poemas, críticas, etc.
E-mail: arspoetica2u@gmail.com
Somos fiéis ao lema "Trás outro amigo também".

Convidamo-lo ainda a visualizar e a ouvir (basta clicar com o rato sobre as imagens) alguns dos poemas com música e interpretação por elementos do Ars Integrata Ensemble (vídeos disponíveis no final desta página), assim como a visitar a página do mesmo em http://arsintegrataensemble.blogspot.com/


-

POEMARIUM : recipientis poeticus

POEMARIUM : recipientis poeticus

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

ARSPOETICA (4) : Correio Poético (2)

Abrindo o correio poético...

2 POEMAS DE M.ª CLOTILDE MOREIRA:


E, então, há um dia
em que perguntamos:
porque foi assim?

Recordamos e revemos
as gargalhadas que não demos
os sonhos que nos roubaram…
apenas sentimos que vivemos.
E agora?


**************************


Às vezes adiamos os sonhos
Para um amanhã com mais tempo

Mas quando esse tempo chega
Os sonhos são só lembranças
Porque os actores já partiram.


Maria Clotilde Moreira
Outubro de 2007

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

ARS POETICA (3) : Correio Poético (1)


Abrimos o correio poético e recolhemos 2 POEMAS DE EDITE GIL:



O REINO DE AQUEM MAR



O Imperador reinava
No seu trono, irresoluto
Fazia mui jus ao voto
Tinha o poder absoluto.

No Parlamento de Algas,
Deste reino de Aquém mar,
Os prosódicos discursos
Eram canções de embalar.

No Ministério da Terra
Era tal a disfunção
Que p'ra evitar a guerra
Muda a cor, o Camarão.

Mas sem dizer a ninguém,
No mais íntimo segredo,
Dando ares de convicção
Sem reconhecer o medo.

E assim desgovernava
Este peixe, a nação
A impotência era muita,
Maior era a ambição.

Não havia um algodão,
No âmbito da saúde,
Que não tivesse controle
Muito, muito amiúde.

O Imperador reinava
No seu trono, irresoluto
E as finanças, controlava,
Acreditando ser arguto.

Na pesca em terra seca,
Muita água ele metia,
Deixava outro oceano
Pescar o que bem queria.

Administrando Aquém,
Com seu ar superior,
Fazia o que entendia
Passando-se por doutor.

Veste fato e põe gravata,
Com o seu ar expedito
P'ra que quem não o conheça
Creia ser um erudito.

A falta de economia,
Deste país bem a sério,
Continua a ser sinistra,
Continua a ser mistério.

Inda estou p'ra descobrir
Como o país vai avante.
Na escola da Tainha,
Ai, ai, ai que hilariante,

Bateram no Tamboril,
Que era então o Mestre-escola,
Notícia de rodapé
Só o qu'importa é a bola.

E assim vai este país,
De verdade irresoluta,
Com este Imperial
Um grande filho da Truta.

Edite Gil
2007.Abr.05



REVOLTA

Terá esta gente memória de peixe?
Reinará, a indiferença mundana acomodada?
Onde está a educação e a formação?
Assistiremos pávidos e serenos
ao apodrecimento da pureza já tão perdida?
A que móbil interior poderemos apelar,
quando, com uma precisão cirúrgica,
a amoralidade suplanta os bons costumes?
Seremos prisioneiros
dos silêncios eternos e inoportunos,
adormecendo ante o ribombar de problemas e emoções?
Rebelamo-nos demonstrando o descontentamento gélido
ou contemplamos apenas as exéquias da nossa história?



Edite Gil
2006.Jun.14

Edite Gil cultiva a cultura popular, reinventando-a como forma de a preservar, e vai tecendo aquilo que ora designaremos por "poemas andarilhos", ou seja, a arte de juntar palavras que se revê na tradição oral maltesa (como diria o poeta e romancista alentejano Manuel da Fonseca), contadora de estórias (i.é, das histórias de cariz popular), carregando-as com o sentido da crítica social e política ("a palavra é uma arma"), mordaz, irónica, ora filigranada, metafórica, ora abrupta com a jactância do improviso, mas nunca ao acaso - parte de uma reflexão pessoal para nos convidar também a nós a segui-la... aqui e agora!

v.t.: Registo vídeo de Edite Gil, interpretando o conto "Os velhos e a morte", no IX Encontro Palavras Andarilhas (Beja, 20-22 de Setembro, 2007), in: http://videos.sapo.pt/af9YaenTpP4RevJyhd54

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

ARS POETICA (2) : Memórias de Adriano


HOMENAGEM POÉTICA A ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA (1942-1982)

O trovador do vento que passa, evocado pelo poeta de O Canto e as Armas:

ADRIANO / por Manuel Alegre

Não era só o som a oitava
que ele queria sempre mais acima
nem sequer a palavra que nos dava
restituída ao tom de cada rima.

Era a tristeza dentro da alegria
era um fundo de festa na amargura
e a quase insuportável nostalgia
que trazia por dentro da ternura.

O corpo grande e a alma de menino
trazia no olhar aquele assombro
de quem quer caber e não cabia.

Os pés fora do berço e do destino
alguém o viu partir de viola ao ombro
Era Outubro em Avintes. E chovia.


Elucidário:

- "O que é estranho é como puderam esquecer o Adriano e a sua obra durante tantos anos?" (José Niza, compositor, in Jornal de Notícias)

- "Foi o primeiro que cantou versos proibidos. Penso que ele foi o mais corajoso de todos. Antes de qualquer outro cantou canções que punham claramente em causa o regime, que falavam de liberdade e do maior tabu de todos - a guerra colonial" (Manuel Alegre in Sic online)

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
e o vento nada me diz
...
(da Trova do vento que passa / poema de Manuel Alegre)

Ver poema completo e cifras dos acordes musicais in:


Mais informação, incluindo a discografia de Adriano Correia de Oliveira, e o programa da principal homenagem a assinalar os 25 anos em que o cantor se libertou das amarras do corpo, in: http://arsmusica2u.blogspot.com/

terça-feira, 2 de outubro de 2007

ARS POETICA (1) : ainda a tempo de esperança

ao percorrer os meus dias em tempos de lassidão
olhando o céu vi o céu
olhando o chão vi o chão

mas ao ter de conjugar de improviso o verbo amar
num presente indicativo de que algo está a mudar
com todas essas pessoas
umas piores que outras boas
outras nem boas nem más
segundo a velha bitola que entre cábula e loas
me ficara da escola
vi nascer um chão no céu
passeei p’lo céu no chão

tudo o que vai e que vem
assim a todos convém:
há que ter o chão no céu
e em cada passo de seu
haver um céu neste chão

p’ra que não fique o senão
contra a força da razão
de já não sonhar ninguém.


- Jorge Castro

Da Ciência e da Arte / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Acerca da essencial e discreta diferença / Júlia Lello (poema) & David Zink (música)

Canção de embalar / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Falas de amor / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)