ARS POETICA 2U releva do conceito de que a alquimia das palavras é parte essencial da vida, sendo esta considerada como arte total.
Por isso se revê no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo, procurando estar em sintonia com todos os que partilham do nosso modo aberto de conceber e fruir a arte.
Por isso é também 2U (leia-se, "to you", i.e. a arte da poesia para si).
Colabore com poemas, críticas, etc.
E-mail: arspoetica2u@gmail.com
Somos fiéis ao lema "Trás outro amigo também".

Convidamo-lo ainda a visualizar e a ouvir (basta clicar com o rato sobre as imagens) alguns dos poemas com música e interpretação por elementos do Ars Integrata Ensemble (vídeos disponíveis no final desta página), assim como a visitar a página do mesmo em http://arsintegrataensemble.blogspot.com/


-

POEMARIUM : recipientis poeticus

POEMARIUM : recipientis poeticus

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

ARS POETICA (13) : Cadavre Exquis


CADÁVER ESQUISITO NUMA SESSÃO DAS «NOITES COM POEMAS»



E eis que na última sessão das «Noites com Poemas» (4.ªs feiras em meados de cada mês, 22h, na Biblioteca Municipal de Cascais, em S. Domingos de Rana), surgiu um cadáver esquisito. Não, não foi necessário chamar a polícia, nem o inspector Poirot, nem Miss Marple, nem o comissário Maigret, o caso acabou por ser deslindado pelos poetas que ali se deslocaram, bem coadjuvados por uma assembleia de neófitos, companheiros, mestres, e superiores incógnitos.

Decorria então uma tranquila discussão académica, com o concurso de destacados especialistas como os Profs. José da Encarnação (pivot da sessão) e Ana Paula Guimarães, em torno dos conceitos de "poesia popular" versus "poesia erudita", pontuada de locuções poéticas de vários presentes.

Por força da dificuldade de delimitação dos conceitos, e em ordem a preservar a boa harmonia de uma assembleia eclética, tendia-se a considerar que não haveria poesia popular ou erudita, mas tão somente Poesia.

Todavia um dos presentes, embora reconhecendo que a realidade é bem mais complexa do que toda a catalogação, e que há práticas que transpõem as fronteiras, advertiu para que não se caísse no "erro de Damásio" (parafraseando a conhecida obra de António Damásio - O erro de Descartes -, que em sua opinião constituiu um magistral ovo de Colombo do marketing contemporâneo, tendo despertado a curiosidade de "gregos e troianos", fazendo o pleno entre racionalistas e teístas) pois Descartes nunca sustentou que a existência dependesse da "consciência de si", mas antes que esta era fundamental para o homem, para interagir de forma positiva na sociedade, desenvolvendo-se a si próprio e, consequentemente o mundo em que se insere.

Com efeito, o desenvolvimento da própria linguagem, sempre incompleta e redutora quando se trata de descrever a realidade, deriva dessa necessidade prática (só a poesia alquímica, transmutadora de significados, é capaz de superar os seus limites). É nesse sentido que o método cartesiano assente no primado do "cogito, ergo sum" (penso, logo existo) continua a ser uma ferramenta essencial para a actividade humana e para o desenvolvimento do pensamento científico e da própria praxis social, pois a comunicação interpessoal, assim como toda a tentativa de compreender o mundo (seja pela maiêutica socrática ou por uma qualquer forma de "peregrinação interior", incluindo a simples reflexão ou a meditação zen) assim o exige, apesar de ser dever da ciência e da filosofia questionar-se a si própria, e sabendo-se que está por resolver o problema de saber quem nasceu primeiro - o ovo ou a galinha?

E, consequentemente, o orador não deixou de sustentar que as catalogações - ainda que redutoras da realidade, como a própria linguagem o é - eram indispensáveis ao conhecimento, e que embora houvesse um denominador comum ao acto poético (a sua ressonância musical, o jogo das palavras, etc.), havia uma diferença estético-filosófica abissal entre a poesia de António Aleixo e a de Jorge de Sena (uma formada por uma reflexão originada na sua propria experiência, a outra reforçada pela cultura adquirida por via intelectual, condensando o saber e a experiência da humanidade - incluindo a do próprio autor - no percurso histórico da sua existência), pelo que não era adequado meter tudo no mesmo saco. E , sem que isso significasse um juízo de valor sobre cada uma das categorias: há "boa" e "má" poesia popular, e "boa" e "má"poesia erudita, assim como há poetas dificilmente catalogáveis.

Mas, uma vez recolocado o estatuto das categorias poéticas sem manifestações contrárias, David Zink acabou por propor à assistência um repto: a realização ao vivo de um poema colectivo, com o contributo de todos os presentes, incluindo os poetas "populares" que lá se encontravam,
segundo um processo "erudito" de raíz surrealista, em que cada um escreveria um verso, sem conhecimento do que estava antes.

Aceite o desafio, eis o resultado:



…E A NOITE TEVE UM FILHO – ESTE POEMA!




Por vezes sinto-me suicida e vejo crâneos erectos
Eu sou devedor à Terra
O mar imenso é meu. De toda a gente

Canto para vós a minha e a tua voz
Tenho fome de poesia
Amando irremediavelmente o que resta de nós próprios

Tenho uma jaqueta de abóbora
Toquei porque não canto
Hoje sou feliz, amanhã também
Porque tive quem eu sempre quis, seja cá ou no além
Hoje há Primavera

É um poema de sons feitos palavras
Eu sei que meus ais…
Pobre de mim que não sei escrever versos
Tomara eu ser poeta e dizer palavras assim
Todos são conhecidos como heróis

David… Moisés… a Pietá
Noite poética, vida livre
É bom neste mundo andar
Eu vejo o gato à janela
Que asas posso eu adejar, se não céu para voar

Cai o silêncio
E batemos à porta da vida tanta vez esquecidos da voz

Notas ou letras, poemas, definições
Amanhece o lento leito…
Com alma transmontana de madrugada!



- E aqui fica esta "poesia popular" travestida em "erudita" graças a um “cadavre exquis” encontrado em São Domingos de Rana.

Deslindado está o caso, no entanto não excluimos a forte hipótese de virem a surgir novos cadáveres esquisitos nas próximas sessões das «Noites com Poemas».

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

ARS POETICA (12): Correio Poético (7) : Glosa de Edite Gil


DA POESIA PARA O POETA


Poeta:
- Eis-me aqui, de novo
Em mais um desabafo comisero
Dos vincos desta engelhada memória…

Poesia:
- Não.
Basta!
Pára!
Deixa-te desse palavreado literário
Desse ar austero de quem domina o que quer que seja
Não me enclausures entre os eruditos.
Eu sou livre e indomável, nasço espontânea…
Não basta casares as palavras de forma diferente
Solene e requintada, pinceladas de outros tons
E chamares-me poesia.
Não me catalogues nem rotules,
Sextilha ou oitava
Redondilha maior ou menor
Eneassilábica ou decassilábica
Rima cruzada ou interpolada
Pejada ou despojada de pontuação…
Olha-me com verdade!
Escuta-me,
Sente-me,
Inebria-te em mim…
Ou crês, por ventura, que almejo ser o mero vomitório dos teus queixumes?

Edite Gil
2006.Mar.20

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

ARS POETICA (11): Correio poetico (6): Explicação do poema


E a provar que a poesia se explica a si mesma, Clotilde Moreira questiona a poesia e responde sob a forma de poema:


O que é um poema?


São palavras que saiem
soltam-se e correm…
de uma alma com dor
ou de um coração de alegrias

Um poema são gritos
que saltam do nosso peito

ou gargalhadas…

Um poema são sempre palavras
São mãos estendidas
Pedindo
Suplicando

Às vezes são esperanças
Muitas vezes desenganos.

Um poema são saudades
São lembranças registadas


Clotilde Moreira

Da Ciência e da Arte / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Acerca da essencial e discreta diferença / Júlia Lello (poema) & David Zink (música)

Canção de embalar / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Falas de amor / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)