ARS POETICA 2U releva do conceito de que a alquimia das palavras é parte essencial da vida, sendo esta considerada como arte total.
Por isso se revê no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo, procurando estar em sintonia com todos os que partilham do nosso modo aberto de conceber e fruir a arte.
Por isso é também 2U (leia-se, "to you", i.e. a arte da poesia para si).
Colabore com poemas, críticas, etc.
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Somos fiéis ao lema "Trás outro amigo também".

Convidamo-lo ainda a visualizar e a ouvir (basta clicar com o rato sobre as imagens) alguns dos poemas com música e interpretação por elementos do Ars Integrata Ensemble (vídeos disponíveis no final desta página), assim como a visitar a página do mesmo em http://arsintegrataensemble.blogspot.com/


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POEMARIUM : recipientis poeticus

POEMARIUM : recipientis poeticus

sexta-feira, 27 de junho de 2008

ARS POETICA (44): "Veritas vincit", ou a Poesia do não-fingimento


Um heterónimo de Fernando Pessoa disse algures que "o poeta é um fingindor" (cf. Autopsicografia / Bernardo Soares, in: Presença, n.º 36, Novembro de 1932), ainda que invocando "a dor que deveras sente", mas o poeta Francisco José Lampreia vem contrapor a necessidade de afirmar a "verdade" imanente (qualquer que ela signifique, e a que nos seja possível alcançar, sendo que os poetas voam sempre mais longe que o comum dos mortais...). E, há que dizê-lo, ainda bem que a poesia não se esgota nos "fingidores", lugar hoje ocupado não por poetas mas por predadores (anti-)sociais.

Poetas "veristas", ou melhor dizendo, poetas d(e)(a) coragem (já que a "verdade" exige coragem, atitude rara nos tempos que correm) são hoje tão necessários como o ar puro que queremos respirar. É certo que a "verdade" por si só não é poesia, mas cabe aos poetas dotá-la de sentido(s) poético(s) "carregado(s) de futuro". Tal como no axioma poético de Gabriel Celaya (1911-1991), Premio Nacional de las Letras Españolas em 1986, trata-se de "(...) poesía necesária, como el pan de cada día (...)".

FJL é uma dessas significantes vozes que se erguem em contra-corrente, e dá-nos um precioso contributo no seu estilo pessoal, em que a intenção “verista” é sabiamente condimentada com a difícil arte da fina ironia.

David Zink


Veritas vincit


- As verdades têm de ser ditas!
- Meu amigo, isso não é chic!
Desconheces a “Realpolitik”?
O dizer deve ser… uma arte,
Agora… é assim em toda a parte.
Cuidado também com a escrita!
A escrita… é perigosa!
E causa melindres,
Pode mesmo ser considerada… melindrosa!
Em vez de verdades,
Falemos e escrevamos antes…
Sobre assuntos de diversão.
Sobre assuntos sérios, Não!
Coisas de diversão… é o que está a dar,
Corre-lhes o vento de feição!
Por isso, coisas sérias não;
Os outros estão-se nas tintas!
- As verdades têm de ser ditas!
- Porque gritas?
- Também não posso gritar?

Francisco José Lampreia / Junho de 2008
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quarta-feira, 11 de junho de 2008

ARS POETICA (43): Poesia & Desporto (I): Fernando Grade no Autódromo do Estoril


AUTÓPSIA DE UMA CORRIDA DE AUTOMÓVEIS

Não queiras ser mais vivo do que és morto” (Augusto de Campos)


Gosto muito de cães que gostem de água.
Fui com um cão bom e branco ver os carros velozes.
Bicho das sementes, o cão ladrava aos motores e
fez os seus grandes inimigos entre os vermes.
As pessoas olhavam para o cão grande vindo da neve
e tinham medo que ele se transformasse num objecto violento;
depois, vendo-o manso,
queriam discutir pneus com o cão branco.
Penso que
o animal é fã de Galileu Galilei:
4 motores + 2 motores + 3 estupores = Sol ao cubo com morangos,
a Terra parece boa e, muitas vezes, marreta.
Não chove, ainda bem para as travagens
– e ganha menos quem trava.
Saio,
creio que o cão desconfia:
a morte andou a cheirar por dentro da água
das chuvas que, afinal, não ganhou rosto algum.
Com Tales de Mileto e
com o meu cão branco fujo das águas
para uma mesa poligonal de cervejas,
misteriosamente como quem sabe e não esquece
que, ao sol ou à chuva, podiam ter morrido,
hoje, sete ou oito mestres do som em fúria
(chamam-lhes, também, pilotos)
naquele vento de armas, dólares e pneus.

Falta-me agradecer a excepção
de me terem deixado entrar para junto dos motores,
armado com o meu cão. Bicho longo,
com alma de bombeiro ; a beber cerveja
ao pé dele – conquista-se o paraíso!


Fernando Grade / Alcabideche, 20 de Setembro de 1987
In: Viola Delta : vol. XXXV : poemas sobre o desporto e outros / Abel Sabaoth, [et al.]. Estoril: Edições Mic, 2003, pp. 18-19.
Anteriormente publicado em: Compra-me um doido / Fernando Grade. Estoril: Ed. Mic, 1988 (esgotado)

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Da Ciência e da Arte / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Acerca da essencial e discreta diferença / Júlia Lello (poema) & David Zink (música)

Canção de embalar / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Falas de amor / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)