Clotilde Moreira reflecte sobre "o tempo, esse grande escultor" (Marguerite Yourcenar dixit) e presta homenagem ao "amarelo da Carris" esse meio de transporte que, apesar de nascido em Inglaterra, é monumento nacional português e património da humanidade
JÁ NÃO VIAJO PELA CIDADE...
Spacial tram (2009) / (re)designed by David Zink
Já não viajo pela cidade...
Os meus planos
têm agora a dimensão do dia,
o futuro já não tem tamanho para mim.
Mas tenho saudades
quando a pressa era Amarela.
Tlim, Tlim avança
Tlim, pára!
E aos solavancos
Corríamos por ruas e ruelas
Avançávamos pelas avenidas
E tudo ficava ao nosso alcance.
Tenho saudades dos bancos corridos
de madeira e palha;
Tenho saudades dos toldos de riscas
e do calor das viagens de verão
até ao Dafundo,
Tenho saudades dos miúdos pendurados
e do pica-bilhetes.
Tenho saudades do tempo
em que a pressa era Amarela.
Clotilde Moreira
E, a pretexto, evoca-se uma das canções populares portuguesas mais inspiradas «O amarelo da Carris» (música de José Luís Tinoco, sobre poema de José Carlos Ary dos Santos), na voz de Carlos do Carmo
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