Ars Poetica 2U celebra a Primavera publicando dois poemas em concerto (um brinde de Pedro Sevylla de Juana, vindo de Espanha expressamente para os nossos leitores, e outro, oh surpresa das surpresas!, um soneto de Antonio Vivaldi), a música das palavras e não só...
PRIMAVERA
A gente da rua, a comum e corrente
a que começa o dia quando o dia começa,
essa gente magnífica que empurra o planeta,
essa gente magnífica que empurra o planeta,
me entusiasma e me surpreende.
Às brisas frescas
Às brisas frescas
e às fragrantes flores
recém abertas
lhes chama essa gente
primavera.
Às traquinadas das crianças alegres
Às traquinadas das crianças alegres
e às pechinchas achadas nas feiras
lhes diz essa boa gente
primavera.
Às noites serenas
e à vizinha lua
pálida e cheia
pálida e cheia
lhes chama
primavera.
A comer três vezes ao dia
um prato de lentilhas, um guisado de ovelha
ou algumas costelas de porco,
lhe diz essa gente primavera.
A enlaçar a tempo um ónibus com outro
para chegar pontual à oficina
e trabalhar quase sem repouso
onze horas ao dia,
cobrando depois de uma comprida espera
uma paga mesquinha,
lhes chama primavera.
A passar uma manhã inteira
sem lumbago, ciática
reumatismo, gastrite ou enxaqueca
lhe diz esta gente primavera.
Os homens e mulheres de carne e sangue
excedem minha capacidade de surpresa:
contagiam ilusão, derramam coragem,
arrostam a vida com a olhada aberta,
comentam em voz alta suas intimidades,
abarrotam as salas de espera
e ao menor indício de melhora
à realidade mais pequena
a qualquer coisa
lhe chamam primavera.
Pedro Sevylla de Juana
e LA PRIMAVERA, di Antonio Vivaldi (1678-1741)
Concerto no. 1, in Mi maggiore per violino, archi e clavicembalo, RV 269, "La Primavera" – movimento I : Allegro / Gidon Kremer (violino) & The English Chamber Orchestra (rec. 1992)
parte prima di Le Quattro Staggioni, in Il cimento dell'armonia e dell'inventione, opus 8 (ca. 1725)
PRIMAVERA
(soneto)
(Movimento I: Allegro)
Giunt' è la Primavera e festosetti
La Salutan gl' Augei con lieto canto,
E i fonti allo Spirar de' Zeffiretti
Con dolce mormorio Scorrono intanto:
Vengon' coprendo l'aer di nero amanto
Vengon' coprendo l'aer di nero amanto
E Lampi, e tuoni ad annuntiarla eletti
Indi tacendo questi, gl' Augelletti;
Tornan' di nuovo al lor canoro incanto:
(Movimento II : Largo)
E quindi sul fiorito ameno prato
Al caro mormorio di fronde e piante
Dorme 'l Caprar col fido can' à lato.
(Movimento III : Allegro)
Di pastoral Zampogna al suon festante
Danzan Ninfe e Pastor nel tetto amato
Di primavera all' apparir brillante.
Antonio Vivaldi
fecit circa 1725
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