Christmas in Purgatory (2007) / David Zink
Caros Amigos,
Como vem sendo hábito que me apraz cultivar, das minhas voltas à volta das palavras, cá vou fazendo o meu cartão de Natal, em cada ano, para partilhar convosco. Reflectindo sempre um estado de alma que é o meu e que não será necessariamente universal, espero dele que transmita, essa sim, uma mensagem de esperança e solidariedade, que entendo como definitivas para salvaguarda da nossa humanidade.
Assim, com os votos de Boas Festas e Ano Novo pleno das mais felizes realizações, aqui vos deixo, com um abraço, o meu Natal de 2007:
o Natal não está porreiro
pá
tal estão as coisas por cá
de Dezembro a dar-a-dar a Janeiro ao deus-dará
(venha um Fevereiro faceiro mais curto para respirar...)
mas o Natal de azevinho
da rabanada e romã
era o princípio de tudo
hoje é o fim
vejam lá!...
começa já em Outubro - sugam-nos osso e tutano
faz-se do Natal Entrudo que se paga todo o ano
fim do ano com acerto que desacerto amanhã
da prestação que é um aperto
do emprego que não há
do medo de vir à rua sem saber quem lá virá
de estar cada mão mais nua do aperto que não dá
de se viver do incerto que por certo morrerá
faz falta o Natal do início
da carícia do sentir
de viver no precipício por saber como voar
dos avós - do aconchego - do cachecolzinho de lã
do ar frio e da braseira
da prenda que alguém nos dá
de sermos livres de rir ou de bem saber chorar
de ouvir cantar os anjos bem cedo pela manhã
com harpas bombos e banjos em charanga que eu sei lá
de bater que sim o pé porque assim mesmo é que é
de não voar sobre as casas porque caíram as asas
mas cantando por ter fé no dia que lá virá
construindo cada dia em cada sítio onde há
uma réstia de alegria
o Natal - ah quem me dera - fosse a arte de ensinar
assim como quem espera ter o prazer de aprender
esse Natal
meu amigo
nunca terá existido...
mas p´rò que der e vier
está à mão de semear para quem o quiser colher
e eu cá o deixo contigo.
- Jorge Castro
Dezembro de 2007
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