ARS POETICA 2U releva do conceito de que a alquimia das palavras é parte essencial da vida, sendo esta considerada como arte total.
Por isso se revê no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo, procurando estar em sintonia com todos os que partilham do nosso modo aberto de conceber e fruir a arte.
Por isso é também 2U (leia-se, "to you", i.e. a arte da poesia para si).
Colabore com poemas, críticas, etc.
E-mail: arspoetica2u@gmail.com
Somos fiéis ao lema "Trás outro amigo também".

Convidamo-lo ainda a visualizar e a ouvir (basta clicar com o rato sobre as imagens) alguns dos poemas com música e interpretação por elementos do Ars Integrata Ensemble (vídeos disponíveis no final desta página), assim como a visitar a página do mesmo em http://arsintegrataensemble.blogspot.com/


-

POEMARIUM : recipientis poeticus

POEMARIUM : recipientis poeticus

sábado, 21 de fevereiro de 2009

ARS POETICA (58): Poesia com História... e com Futuro!



O preço das coisas



No antigo o homem era antes de tudo a sua tribo
e a tribo representava a pátria do homem
a família, o amparo e a despensa;
a propriedade era comum e eram comuns os filhos
os projectos, o trabalho e a colheita;
compartiam-se também
a íntima dor ou a profunda alegria
e o individual não se manifestava apenas
apenas florescia.

A tribo foi-se diluindo nos costumes
a bonança permitiu ao homem mostrar sua personalidade
o homem, separado dos outros, fez-se gente
e a gente descobriu, inventou, modificou
pôs preço às coisas.

Quando tirarem à gente o preço das coisas
chorará como se lhe arrebatassem as coisas
porque não sabe separar as coisas
do preço das coisas.

Quando tirarem à gente o preço das coisas
aninhar-se-ão no seu coração a dúvida e o receio,
pois a gente aprende na primeira infância
- saber sequestrador da inocência -
que antes ou depois
tudo lhe custa;
e se, em etiqueta fixada ou aderida,
não se mostra bem visível o preço
- escrito em caracteres claros
perto do número redondo -
costuma dever-se a que é muito alto.

Quando tirarem à gente o preço das coisas
e as coisas se mostrarem desnudas à gente
a gente não reconhecerá as coisas,
porque sabe que o preço é para as coisas
como a forma, a cor, o cheiro ou a textura
que devem ter todas as coisas.

Quando tirarem à gente o preço das coisas
ignorar-se-á a ordem que seguem as coisas
equivocar-se-á a hierarquia
e tudo será um caos
para a gente que ordena as coisas
pelo preço que têm as coisas.

Mas se queremos que a gente
modifique sua maneira de ver as coisas
e avalie atributos primordiais
como a beleza de linhas
a utilidade prática
o som do vento ao abraçar sua superfície
a suavidade do tacto
a natureza da substância originária,
devemos tirar o preço
que um dia se pôs às coisas.

Quando consigamos tirar o preço às coisas
-acontecimento histórico memorável-
do indivíduo isolado, da gente, surgirá o homem
coração animado de sístoles e diástoles.

Pedro Sevylla de Juana
Money, money (2009) / David Zink
-
-

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ARS POETICA (57) - esculpindo

em bloco duro de pedra informe e fero trato
a mão afaga
o cinzel lavra
aquele retrato
que paira só no olhar denso do artista
de forma tal que saiba ele que lá exista
um corpo
um ar
um ser
um estar
que nos evoca
o infinito de um mistério e da poesia

e quando depois se toca a aspereza atenuada
dádiva da terra-mãe por troca de nada
em parto ardente sem temor ou agonia
mas que a mãos ambas
o escultor mostra
e desvenda
e traça a golpes com o maço que deslaça
o fino enredo de uma vida
de uma lenda
queda-se esse infinito ao rés da mão em gentil acto
para melhor que o mundo o entenda
assim nascido
em bloco duro de pedra informe e fero trato.

- Jorge Castro

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

ARS POETICA (56): In hoc signo vinces!

-

SINAIS


-------------------------------------Eu não sei de todos estes sinais
-------------------------------------que me bombardeiam os dias,
-------------------------------------não sei quem os desenha
-------------------------------------nesta planura onde teu gestos
-------------------------------------abrem tantos trilhos
-------------------------------------que percorro - coração em canto,
-------------------------------------guiada por tua mão.


-------------------------------------Não sei se são outras sendas
-------------------------------------a percorrer,
-------------------------------------ou apenas a memória
-------------------------------------daquelas que percorri
-------------------------------------as exaltando,
-------------------------------------como a sombra a luz.


-------------------------------------Eu não sei sequer
-------------------------------------o princípio e fim desta planura,
-------------------------------------o tempo do seu relevo.
-------------------------------------Não sei se esse relevo existe,
-------------------------------------ou se se forma e dissipa,
-------------------------------------como dunas
-------------------------------------modeladas no vento,
-------------------------------------e se nesse vento
-------------------------------------sou sopro,
-------------------------------------ou leve brisa.


-------------------------------------Eu nada sei
-------------------------------------que não de tua imensidão em mim
-------------------------------------de como meus passos aí se quedam
-------------------------------------em cada curva,
-------------------------------------cada traço,
-------------------------------------cada rasgo.


-------------------------------------Nada sei,
-------------------------------------que não de minha perenidade aí,
-------------------------------------apartada de todos teus possíveis rumos,
-------------------------------------de todos teus rostos,
-------------------------------------de todos teus fluidos
-------------------------------------e gritos.


-------------------------------------Mas
-------------------------------------em ti,
-------------------------------------onde todo o mundo antigo
-------------------------------------se faz novo,
-------------------------------------eu sei meus passos.



Kitó /Jan. 2009
-

Da Ciência e da Arte / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Acerca da essencial e discreta diferença / Júlia Lello (poema) & David Zink (música)

Canção de embalar / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)

Falas de amor / Jorge Castro (poema) & David Zink (música)