Ao menos, hoje, o mundo não morreu
«Nihil esse tam sanctum, quod nom
aliquando violaret audácia»
Cicero
A rosa em concha
sedoso bicho de águas ruivas
floresta velha de medos e marés
sal de muito viajar
pedra fechada por unhas ardidas
sangue seco batido pelo grato vento
da família:
flor guardada por facas brancas
palavras austeras sibilinas de trevo
(«o corpo nunca dança!»)
beco de carne minúsculo e
cheiroso de outras armas, cada vez mais cerrado
sobre a pele, hirto de tantos retratos
em cólera que jamais lambeu,
a rosa em concha de ervas
vai ser metralhada por uma audácia
violeta de pregos, sémen
e duas maçãs, violento modo
com crinas soltas e suor
de ser barco púrpura
que rói e fornica.
Ao menos, hoje, o mundo não morreu.
In: Philosophus per ignem : poemas / Fernando Grade. – S. João do Estoril : Edições Mic, 1996, p. 28
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