sonhei que vivia num país de financeiros gananciosos
os pobres e a classe média
porque esses insurgem-se e geram confusão
sonhei que vivia num país de financeiros gananciosos
e políticos corruptos...
Então, e só então, se cumprirá o vate:
Apollo & Daphne's nude passion [2011] / (re)designed by David Zink
A semana que findou, ficou marcada pela entrega do espólio literário de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) à Biblioteca Nacional de Portugal. Foi um acto que honra os seus herdeiros, pois ao contrário do que muitas vezes sucede, tratou-se de uma doação não de uma venda, visando justamente a salvaguarda de um património inestimável à instituição oficial mais habilitada para o fazer e, simultaneamente, a sua disponibilização a todos os investigadores que se interessem pela sua obra.
A par deste acontecimento a 26 de Janeiro, assinalado com a pompa e circuntância elgarianas (ainda que sem a grandiloquente música do famoso compositor inglês), foi inaugurada na BNP uma exposição ilustrativa deste espólio, comissariada por Paula Morão e Teresa Amado, e realizou-se em boa-hora nos dois dias seguintes na Fundação Calouste Gulbenkian, um Colóquio Internacional sobre a poetisa e a sua obra.
Ars Poetica 2U aplaude tais iniciativas e, para estimular o apetite pela leitura da sua obra, transcreve um dos seus poemas menos conhecidos, talvez o mais curto em número de palavras (como um Haiku japonês) mas carregado do sentido que norteou a sua vida poética.
____________Atravessou a minha vida como rios
Windance (2010) / David Zink
SONHAR AO VENTO*
Não guardes os Sonhos só para ti.
Atira-os ao ar
e deixa que o vento os leve.
E que lá longe,
muito longe
alguém os apanhe
e possa também Sonhar
O vento soprou
com força guinchou,
como nota desavinda
que se soltou
e sozinha cantou.
O vento soprou
e com força arrancou
o chapéu
que voou
e lá longe aterrou.
O vento soprou
e com força gritou:
o INVERNO chegou...
Maria Clotilde Moreira
The return of Mr. Winter
& L’ HIVERNO, di Antonio Vivaldi (1678-1741)
parte quarta di Le Quattro Staggioni, in Il cimento dell'armonia e dell'inventione, opus 8 (ca. 1725)
INVERNO
(soneto)
(Movimento I: Allegro non molto)
Aggiacciato tremar trà nevi algenti
Al Severo Spirar d' orrido Vento,
Correr battendo i piedi ogni momento;
E pel Soverchio gel batter i denti;
(Movimento II : Largo)
Passar al foco i di quieti e contenti
Mentre la pioggia fuor bagna ben cento
(Movimento III : Allegro)
Caminar Sopra il giaccio, e à passo lento
Per timor di cader gersene intenti;
Gir forte Sdruzziolar, cader à terra
Di nuove ir Sopra 'l giaccio e correr forte
Sin ch' il giaccio si rompe, e si disserra;
Sentir uscir dalle ferrate porte
Sirocco Borea, e tutti i Venti in guerra
Quest' é 'l verno, mà tal, che gioia apporte.
Antonio Vivaldi
fecit circa 1725
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- «Natalis Angelorum et Lapis Philosophorum» / David Zink fecit MMIX
E no (en)"Canto Livre", da sublime interpretação histórica de Manuel Freire (em 1969), aqui revivida pelo próprio quatro décadas depois:
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